Plagiando o bordão consagrado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eu diria que nunca, na história deste país, um vice-presidente marcou tanto a sua passagem política, empresarial e pessoal, como o recém-falecido José Alencar Gomes da Silva.
Falar sobre a vida de José Alencar é cair no lugar comum da repetição de trechos do imenso conteúdo de tudo o que foi amplamente divulgado pela grande mídia nacional e internacional, o que tornaria este texto pretensioso e formatado como cópia da cópia.
Mas há algo que me fascina (como à grande maioria dos brasileiros) na história deste bravo mineiro, nascido do seio da camada menos favorecida de nossa sociedade, o que fortalece a esperança de nosso povo em poder limpar a vida política do país, fazendo valer a vontade popular em leis aprovadas, como a conhecida "Ficha Limpa". E essa determinação não passou pela demagógica pirotecnia factoide usual na maioria das ações políticas que permeiam os escândalos de corrupção. Ela se tornou transparente quando José Alencar assumiu, mesmo no PL, a existência do mensalão, dando uma prova inequívoca de coerência como cidadão, mesmo tendo que dar um tiro no próprio pé. Igual atitude ele teve em relação às altas taxas de juros praticadas no país, sob tutela da equipe econômica do governo do qual fazia parte, mas se negava a ser um fantoche robotizado e programado para somente aplaudir.
O sonho político que sempre acalentou José Alencar, baseado na sensibilidade social; na probidade administrativa e no sentimento nacionalista, não pode morrer junto com as manifestações protocolares do féretro, em Brasília e, posteriormente, em Minas Gerais, mas espargir como exemplo possível de ser alcançado, tendo como próprio espelho a sua vida.
E, nos seus últimos quatorze anos, exercitou a forma de convívio mais bem humorada no seu cotidiano, entre a vida e a morte, contagiando toda a nação com o seu exemplo de luta pela vida. Inspirado pelo filósofo grego Sócrates, deu uma prova de seu consciente e ilibado destemor, em dezembro de 2007, ao sair de uma das dezessete cirurgias realizadas, afirmando: "Você não sabe o que é a morte, então você não tem de ter medo da morte. Você tem de ter medo da desonra, dela você tem de ter medo, isso mata você. A vida é uma jornada."
Sylvio Muniz é publicitário (05855-SP-1975), fundador, editor e proprietário do Jornal Mania de Saúde e Conselheiro da Ordem dos Jornalistas do Brasil.