sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

poéticas




PoÉtica

quando tenso
o poema penso
fio suspenso
no AR

quando teso
o poema preso
peixe surpreso
no MAR

fulinaimicamente


do som dessa palavra
nasce uma outra palavra
fulinaimicamente
no improviso do repente
do som dessa palavra
nasce uma outra palavra
fulinaimicamente


brasileiro sou bicho do mato
brasileiro sou pele de gato
brasileiro mesmo de fato
yauaretê curumim carrapato
em rio que tem piranha
jacaré sarta de banda
criolo tô na umbanda
índio fui dentro da oca
meu destino agora traço
dentro da aldeia carioca



Jackson do Pandeiro
Federico Baudelaire
nas flores do mal me quer
Artur Rimbaud na festa
de janeiro a fevereiro
Itamar da Assunção
olha aí Zeca Baleiro
no olho do mundo
no olho do mundo cão





sargaço em tu boca espuma

em armação de búzios
 tenho um amor sagrado
guardado como jura secreta
que ainda não fiz para laís
em teus cabelos girassóis de estrelas
que de tanto vê-las o meu olho  vela
e o que tanto diz  onda do mar  não leva
da areia da praia onde grafei teu nome
para matar a sede e muito mais a fome
entranhada  na carne como flor de lotus
grudada na pele como tatuagem
flutuando ao vento como leve pluma
no salgado corpo do além mar afora
sargaço em tua boca espuma
onde vivem peixes  - na cumplicidade
do que escrevo agora




Sorocaba Blues

o cheiro de terra fendida
ainda está sob os sapatos
a carne assada ao sol
na poeira das estradas
sob o prato o gosto que restou da boca
o pudor dos seus guardados
o orgasmo que não veio

depois do primeiro susto
Virgínia então vem a mim
faminta com os seus desejos
mastiga da minha carne
e deixa as sobras
pros meus beijos


natural orgia

fosse o que não diz ou se assim dissesse
toda palavra fala em minha língua cresce
fermento em algum tempero
como sentir teu cheiro e muito mais que isso
que não sei o nome e inda queima em brasa
nos lençóis de linho
fosse em sua cama ou em minha casa
ou até fosse mesmo em qualquer  cozinha
essa loucura minha passeando a noite
em um poeta teso mesmo fosse dia
fosse sol ou lua natural orgia
em tua boca nua esse poema preso


subVersão poÉtica subVersão

duvido do poeta
que nunca amolou a língua
afiou a faca
atirou a pedra
saltou da ponte
para o outro lado da linguagem

duvido do poeta
que nunca escreveu uma sagaranagem
explodiu a fala
saltou para dentro do abismo
de qualquer palavra
no poço fundo da voragem

duvido do poeta
que nunca pensou uma fulinaimagem
nunca foi drummundo
nem mergulhou fundo
em algum corpoema
nunca quebrou a meta

duvido do poeta
que nunca arrombou alguma  porta
nem assaltou uma janela
que não entorta a linha reta
não sabe que coisa é ela
a arma branca do poeta

poeta que é poeta
não descreve situações
corta a verborragia dos versinhos
e só escreve subVersões


arturgomes
poéticas fulinaímicas

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