de Conceição Lemes
Sempre que a vovó ou o vovô têm confusão mental, duas hipóteses atemorizam os familiares: será tumor na cabeça ou mal de Alzheimer?
Na imensa maioria dos casos não é nem um nem outro”, afirma o clínico geral Arnaldo Lichtenstein, do Hospital das Clínicas de São Paulo, professor colaborador do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP e um dos especialistas entrevistados no livro Saúde — A hora é Agora (leia no pé deste texto). “Os principais responsáveis são diabetes descontrolado, infecção urinária e família que passa o dia inteiro no trabalho, no shopping ou no clube, fora de casa.”
Parece brincadeira, mas não é. Constantemente vovó e vovô não têm sede e deixam de tomar líquidos. Como não há gente em casa para lembrá-los, desidratam-se com rapidez. E a desidratação no idoso tende a ser grave, afetando todo o organismo. Pode causar confusão mental abrupta, queda de pressão arterial, aumento dos batimentos cardíacos (“batedeira”), angina (dor no peito), coma e até mesmo morte.
Impossível?! Não. Ve ja por quê:
• Ao nascermos, 90% do nosso corpo é constituído de água. Na adolescência, isso cai para 70%. Na fase adulta, para 60%. Após os 60 anos, temos pouco mais de 50% de água. Isso faz parte do processo naturalde envelhecimento. Portanto, de saída, os idosos têm menor reserva hídrica.
• Mas há outro complicador. Mesmo desidratados, eles podem não sentir vontade de tomar água, pois os seus mecanismos de equilíbrio interno funcionam menos.
• Explicamos. Nós temos sensores de água em várias partes do organismo. São eles que verificam a adequação do nível. Quando o nível cai, esses detectores acionam automaticamente o “alarme”. Pouca água significa menor quantidade de sangue, de oxigênio e de sais minerais circulando nas nossas artérias e veias. De imediato, então, o corpo “pede” água. Essa informação é passada ao cérebro, a gente sentesede e sai em busca de líquidos. Nos idosos, porém, esses mecanismos atuam menos.
A detecção de falta de água corporal e a percepção de sede estão diminuídas. Alguns ainda, devido a certas doenças, como artrose avançada, evitam se movimentar até para tomar água.
• Resultado: os idosos desidratam-se facilmente não apenas porque possuem reserva hídrica menor, mas também porque sentem menos sede. Além disso, para ter desidratação grave, eles não precisam de grandes perdas — por exemplo, diarreias, vômitos ou exposição intensa ao sol. Basta o dia estar bastante quente ou a umidade do ar baixar muito. Nessas situações, perde-se mais água pela respiração e suor e, se não houver reposição adequada, é desidratação na certa. Mesmo que o idoso seja saudável, essa perda prejudica o desempenho das reações químicas e das funções de todo o organismo.
“Por isso, vovós e vovôs, se habituem a beber líquidos”, alerta Lichtenstein. Por líquido entenda-se água, sucos, chás, água de coco, leite. Sopa, gelatina e frutas ricas em água (melão, melancia, abacaxi, laranja e mexerica) também funcionam como líquido. O importante é, a cada duas horas, botar algum líquido para dentro. Lembrem-se disso!
O segundo alerta de Lichtenstein é para os familiares. Ofereçam constantemente líquidos aos idosos da casa. Lembre-lhes de que isso é vital. Ao mesmo tempo, fiquem atentos. Ao perceberem que eles estão rejeitando líquidos e, de um dia para outro, ficam confusos, irritadiços, fora do ar, atenção. É quase certo que esses sintomas sejam decorrentes de desidratação. Líquido neles e rápido para um serviço médico.
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* O doutor Arnaldo Lichtenstein é clínico geral, médico do Hospital das Clínicas de São Paulo, professor colaborador da Faculdade de Medicina da USP e um dos 70 profissionais de saúde entrevistados por esta repórter para o livro Saúde — A Hora é agora, do qual é co autora.
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