quinta-feira, 3 de março de 2011

A solução está na vontade política


por Sylvio Muniz

Na minha humilde avaliação, nada marca mais a nossa vida que a tragédia e a desgraça, mas nem mesmo estes momentos parecem ficar registrados por muito tempo na memória dos brasileiros, que parecem querer sempre debitar na vontade Divina (para a alegria de políticos demagogos e mal intencionados) todas as mazelas premeditadas pela incúria, malversação de recursos e corrupção de nossos governantes.

É impossível entender que, pagos com o dinheiro do contribuinte para administrar uma cidade, um estado ou uma nação, aqueles que dizem "aceitar este desafio e esta missão espinhosa, com o sacrifício de seu bem-estar", passem, às vezes diariamente, por locais de alto risco e não percebam construções em andamento, materiais de construção sendo armazenados e gente dependurada por andaimes que mais parecem rapel, tijolando barracos à beira de precipícios, encostas e planos inclinados de causar arrepio em gato.

Passei, há poucos dias, por Nova Friburgo e ouvi muitas histórias, para entender melhor o que se passava na alma daquele povo valente, empreendedor e fruto de uma cultura europeia de independência e visão empresarial herdadas dos seus antepassados suíços. Fiquei chocado e pessimista com a minha visão futura, de curto e médio prazo, com as possibilidades da volta daquela cidade aos níveis normais em seu setor produtivo.

Por um breve tempo, passou pela minha gasta memória a tragédia que abalou New Orleans, quando o furacão Katrina a escolheu para desovar a sua fúria e deixou-a, até os dias de hoje, aos mesmos moldes das cidades fantasmas que povoavam os filmes de faroeste americano que fizeram parte do meu lazer infantojuvenil. Tudo isto com a complacência do então presidente Bush, que não teve nenhuma ação humanista/administrativa que viesse ajudar a preservar o berço do jazz e do blues, cujos eventos musicais atraíam milhares de pessoas anualmente, que engordavam as contas do turismo americano e sustentavam uma população inimaginável de habitantes, além de raros talentos musicais daquela região.

Nova Friburgo me lembrou New Orleans, pela tragédia e pelo lamento soturno das vítimas abaladas pelos deslizamentos que o poder público por lá permitiu, tanto quanto permite nas encostas e nos alagados da cidade do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Recife etc etc etc.
Não basta apenas arrecadar e pedir ajuda aos cofres do governo federal, buscando aval na dor dos que ficaram e na lembrança dos que se foram, aproveitando a intensa exposição midiática do momento. É necessário investir certo o dinheiro do contribuinte. É imprescindível a vontade política para evitar novas tragédias e dar normalidade ao curso dos segmentos produtivos da sociedade, que quer ampliar os recursos pagos em impostos ao próprio governo, uma evidência do próprio crescimento da economia como um todo.

Não sou apologista da frase que marcou a rebeldia Guevariana, "Se há governo, sou contra". Sou contra, sim, o desgoverno. A falta de atitude; a falta de compromisso da cartilha de palanque eleitoral e a falta de comprometimento com o cargo público que tanto lutou para desempenhar. Para mim, a avaliação do político não começa pelo partido que representa ou pela possibilidade de angariar favores pessoais. Começa e termina pelas ações concretas de uma administração voltada para realizações que venham otimizar os vários segmentos da sociedade que representa. Da mesma forma que o processo democrático nos permite o exercício da crítica negativa, temos que ter a responsabilidade de exaltar as ações positivas dos governantes.

Em Campos dos Goytacazes, um exemplo de vontade política, para se resolver problemas de alto risco de moradia, foi dado pela itaperunense Rosinha Garotinho, quando, em contrapartida pela aquisição de uma moradia fornecida pela prefeitura, mandou, imediatamente, tombar todas as casas que margeavam a BR-101, na altura de Ururaí, um local com registro de histórias trágicas de acidentes.

A lição deixada por essas tragédias demonstra que devemos fomentar discussões que promovam a mudança de uma cultura política norteada pelo estímulo da ilegalidade e pela banalização dos valores morais e éticos.

O sociólogo Demétrio Magnoli aponta que a razão maior desses problemas está "nas escolhas políticas baseadas numa racionalidade avessa ao interesse público e, muitas vezes, às próprias leis".


Sylvio Muniz é publicitário (05855-SP-1975), fundador, editor e proprietário do Jornal Mania de Saúde e Conselheiro da Ordem dos Jornalistas do Brasil.




Roseane dos Santos, em Rio das Ostras, Região dos Lagos, posa com uma edição de verão do Mania de Saúde, ilustrando a presença do nosso jornal em todas as orlas do interior do Estado do Rio de Janeiro, além das praias de Guarapari, muito procuradas pelos veranistas fluminenses

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