segunda-feira, 9 de agosto de 2010

visões periféricas

Inscrições abertas para o Festival Audiovisual Visões Periféricas 2010, que traz novidades em sua 4ª edição. São quatro mostras competitivas, com R$ 16 mil de premiação. Duas mostras são voltadas para a produção audiovisual na internet (Imagens Remix e Tamojuntoemisturado), enquanto as mostras Visorama e Fronteiras Imaginárias são no formato tradicional, com exibição em salas de cinema.
Também fazem parte do Visões Periféricas 2010 as mostras temáticas Cinema da Gema e Periferia Animada, alem da mostra internacional Ibero-americana.

Até 20 de agosto estão abertas as inscrições para as mostras online do festival. Vídeos de até 03´(min). Exibição e votação na internet. Premiação de R$ 2.500,00 para o filme mais votado. Participe!
http://www.visoesperifericas.org.br/


Os Deuses e os demônios do futebol

“Guerreiro e brahmeiro passaram a ser uma rima edificante para brasileiro”.-
Zuenir Ventura.

Estou convencido de que o assunto da Copa do Mundo não perdeu a atualidade, ao lembrar que o festejado cronista de O Globo Artur Xexéo, comentando a carta que Dunga enviou ao dirigente Ricardo Teixeira, presidente da CBF, ponderou que “muita coisa ficou por esclarecer”. O que faltou - quem sabe?- deve ter decorrido de um simples problema de estilo, a mania do preciosismo que afeta muita gente. O discutível técnico, por exemplo, imbuído da mais pura elegância rococó, empregou, num dado momento do seu texto, a inusitada palavra DESIDERATO, ao invés dos usuais vocábulos OBJETIVO, PROPÓSITO, INTENÇÃO, não notando que estava colocando um óbice no fluxo do que queria dizer em sua carta. É evidente que a linguagem rebuscada é escura como breu.

Vou aqui abrir um parêntese, salientando que Xexéo não sofre do mal de não deixar as coisas claras, pois foi ele quem revelou a este pobre escriba que Dunga recebeu, talvez na pia batismal, o nome de Carlos Caetano Bledorn Verri. Os sobrenomes, que ressoam pomposamente e que os brasileiros carregam do Continente Europeu, nos dão um toque de finura que beira o requinte das elites de sangue do primeiro mundo. É possível que o sobrenome Bledorn Verri revestiu-se para Dunga de um tom heráldico, que ele não quer desfazer quando se expressa através da palavra escrita. Afinal ele não é um Carlos Caetano Bantu Araribóia qualquer.

Cabe-lhe, pois, mercê de sua estirpe, esforçar-se para conseguir um linguajar aprimorado, não ficando nada mal vazá-lo, ao escrever, pela senda do cultismo. Não me admira, assim, a sua paixão, revelada nas entrelinhas, pelo espanhol Luís de Gôngora y Argote, pelo italiano Gianbattista Marini e pelo inglês John Lyly. É possível ainda que lhe pareça ter em outros tempos vivido na França, lá pelos idos do “Rei Sol” e de Luiz XV, seu sucessor, ou na Silésia do século XVII e do início do século XVIII. Daí o culto da forma altamente rebuscada no ato de colocar o que pretende dizer no papel. Que fique a linguagem chula para os campos de futebol.

Mas, se Dunga, ou melhor, Carlos Caetano Bledorn Verri, busca o requinte, embora anacrônico, na linguagem escrita, não o fez ao burilar o desempenho dos seus comandados da seleção brasileira, pois havia – coitado! - pedras difíceis ou impossíveis de serem cinzeladas.
Daí entender que ele não é o único culpado pela desastrosa partida com a Holanda.

Culpados somos todos nós, ao colocar nas chuteiras dos jogadores a honra nacional. Algo não muito diferente do que aconteceu com as seleções e torcidas de outros países. O proclamado brio de guerreiros, estimulado mais ainda pelos hinos nacionais, moveu intensamente, tanto técnicos quanto jogadores, fazendo com que, no fundo, não fugissem da estratégia do futebol força e alguns chegando ao requinte do futebol pontapé nas canelas dos adversários. E até aqui, no nosso doce Pindorama, nós mesmos vivemos, ao longe, a angústia, como se estivéssemos numa guerra, em função do ridículo patriotismo regado a cerveja, como nos dá conta o talentoso Zuenir Ventura da epígrafe.

O treinador do time brasileiro deve sem dúvida ser absolvido, sobretudo pela escolha dos jogadores, pois esta decisão não cabe tão somente ao técnico, tais os interesses milionários que a envolvem. Há, por outro lado, algo que merece mais que tudo uma profunda reflexão. Em todas as competições futebolísticas, deuses e demônios se agitam para alcançar aquilo que para nós é o imponderável. Só um traiçoeiro capeta muito do sacana poderia armar o conjunto de coincidências demoníacas que, num átimo, ensejou o gol de empate da Holanda, desestabilizando emocionalmente a seleção brasileira.

Fernando da Silveira
Fernando da Silveira, Mestre em Comu-nicação Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é professor da Faculdade de Direito de Campos e da FAFIC e membro da Academia Campista de Letras.

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