terça-feira, 30 de novembro de 2010

Meus dois assuntos

O humanismo e o respeito são fundamentais

Nada gratifica mais a vida de um comunicador que o reconhecimento do seu público à mensagem produzida.

A Edição Especial do Mania de Saúde nos dá a alegria de ver, no rosto de cada profissional que o recebe, o agradecimento pela homenagem à data que o distingue, além de vê-lo viajar em lembranças dos seus colegas, alguns envolvidos em matérias e depoimentos no jornal, muitas vezes da mesma turma de faculdade. Os breves comentários parecem refletir o script de um filme cujo enredo definiu, invariavelmente, especialização na profissão, hospital onde fez residência, cidade escolhida para iniciar vida profissional e, até, casamentos... A saudade foi expressada na frase mais ouvida nestes momentos, "Bons tempos!"

Esta acalorada recepção por médicos, dentistas e fisioterapeutas demonstra, mais uma vez, que a nossa intenção sempre foi divulgar os fatos, de forma ética, sustentados por uma mídia de comprovado retorno, ao contrário do que vemos de prática recorrente, que é a exploração da imagem de profissionais para auferir ganhos pecuniários.

De Cabo Frio às cidades do Noroeste Fluminense, passando por Campos dos Goytacazes, pudemos ratificar a preocupação humanística em torno da medicina contemporânea, salientada em minha coluna da Edição Especial, quando exaltei um brilhante texto em forma de alerta, "O que estamos fazendo com os nossos bagrinhos?", do médico Dr. José Roberto A. Ribeiro, e os pronunciamentos de outros colegas seus (ainda não havia recebido para publicação o texto do Dr. Cotrim Teves, ilustre ortopedista itaperunense, reforçando, de forma magistral, esta percepção).

Quase 70% dos médicos envolvidos em depoimentos, ao receberem a Edição, fizeram menção à necessidade de uma medicina mais humanizada e um respeito maior não só do governo, no âmbito da saúde pública, como do paciente, na relação premeditada de má fé, produzindo para o futuro a possibilidade de uma ação por erro de conduta médica. Para muitos destes, os tribunais já produziram justiça, transformando-os de pretensas vítimas a réus.

Tartufos, versão moderna dos fariseus

Não posso deixar de render homenagens à genialidade do texto que Fernando da Silveira produziu para a sua coluna desta edição do Mania de Saúde, intitulado: "A hora e a vez dos Tartufos?".

Nada demais para a grandeza intelectual do autor, porém de uma extraordinária relevância como crítica aos rumos que a política brasileira insiste em seguir, com a aderência de muito aventureiro sem nenhum lastro de trabalho nas bases ideológicas dos partidos políticos. No caso do Partido Verde, cuja luta pela preservação do meio ambiente já se consolidou nacional e internacionalmente, a tendência de aumentar o número de paraquedistas pousando no passado histórico de nomes notáveis, citados pelo Prof. Fernando da Silveira, é potencializado, segundo a minha dedução, pela fantástica performance, no primeiro turno da eleição presidencial, da senadora Marina Silva, esta sim, um nome de vanguarda da luta ambiental, reconhecida, admirada e respeitada em todo o planeta, que está de olho no pulmão do mundo, a nossa Amazônia.

Pegar carona no trem da ecologia, quando jamais plantou um coqueiro ou não sabe diferenciar um lamaçal de um manguezal, é coisa de gente oportunista, muito mais danoso ao processo democrático que a eleição de um Tiririca da vida, fruto da maior expressão de escárnio e deboche da política brasileira pelos eleitores.

Na Baixada da Égua, apelido carinhoso dado à Baixada Campista, em Campos dos Goytacazes, costuma-se usar a expressão "Por fora, bela viola. Por dentro, pão bolorento", quando se quer alertar alguém sobre as intenções de terceiros.


Sylvio Muniz é publicitário (05855-SP-1975), fundador, editor e proprietário do Jornal Mania de Saúde e Conselheiro da Ordem dos Jornalistas do Brasil.
http://www.jornalmaniadesaude.com.br/


A hora e a vez dos Tartufos?

"A energia que alimenta o PV de araque é a fisiologia autossustentável"- Carlos Rito, ao comentar o artigo Marina contra o ecobusiness publicado por Fernando de Barros e Silva, na Folha de São Paulo.

Os maiores de 10 anos e que sabem contar até 10 certamente não desconhecem que Tartufo é o célebre personagem da comédia homônima de Mollière, com cinco atos, na qual o admirável dramaturgo francês construiu para sempre e com palavras, que se tornaram mármore, o protótipo do ser humano hipócrita, falso e perverso. Não ignoram, assim, que os vocábulos tartufice, tartufismo e tartúfico significam, respectivamente, ato de hipócrita, linha de conduta de indivíduo falso e qualificativo de alguém que esconde a maldade com a enganosa capa do altruísmo e da grandeza moral.

Como não temos, no Brasil, partidos políticos, mas, sim, grêmios eleitorais, o fisiologismo imperante faz com que neles possam se abrigar tartufos de todos os matizes. O Partido Verde não está imune, ainda que reunindo pessoas da maior dignidade, à ação perversa dos que nele ingressaram ou queiram ingressar com o simples intuito de se darem bem, enganando, embaindo, tartuficando. Segundo o articulista da Folha de São Paulo Fernando de Barros e Silva, em seu bojo há indivíduos, que estão se apropriando do prestígio internacional dos que defendem o planeta Terra, ao empunharem de fachada a bandeira verde para, no fundo, "legitimar práticas políticas paroquiais e viciadas".

Quando em nosso país havia partidos políticos, João Mangabeira dizia que era vital a prática política não colidir com o ideário político, na atuação dos integrantes de partidos políticos dignos deste nome. E mais: que os idealistas não podiam fugir da luta política. Dentro desta ordem de idéias, confesso que fico espantado quando um professor da dignidade, da cultura e com respaldo de um passado de luta, em todas as frentes, na defesa intransigente de causas ambientais, como o bravo Aristides Sofiati, não esteja entre os que pleitearam votos para cargos eletivos pelo Partido Verde. Como gostaria de vê-lo ao lado do idealista Andral Tavares Filho.

Estou convencido, diante do arrivismo do nosso tempo, que o Partido Verde deve fechar as portas para os que querem simplesmente se abrigar em sua sigla com objetivos eleitoreiros. É o momento de o Partido Verde, iluminado pelo fulgor intelectual e autenticidade de líderes políticos da estatura de Alfredo Sirkis, Fernando Gabeira e Aspásia Camargo, não deixar cair no ralo o prestígio alcançado pela expressiva e comovente votação da digna Marina Silva, nas últimas eleições para Presidência da República.



Fernando da Silveira
Mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é professor da Faculdade de Direito de Campos e da FAFIC e membro da Academia Campista de Letras.



Médicos escritores

Para o senso-comum, o sublime é matéria exclusiva dos poetas, romancistas e demais artesões da escrita. Mas o conteúdo humanístico, inerente a todos nós, é latente também para quem segue a honrada profissão de médico, considerada por muitos a mais altruísta que existe. Não é à toa, por exemplo, muitos escritores usarem a roupagem da medicina e fornecerem material a sua arte. Ou vice-versa. Daí existir, no Brasil, tantos escritores médicos, que marcaram e marcam as letras e a ciência a cada ano que passa.

O exemplo mais notável, talvez, seja o do escritor Guimarães Rosa (1908-1967). Mesmo conhecido como diplomata, o autor de “Grande Sertão: Veredas” foi, antes de tudo, médico, formado pela então Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais, em 1930. Dois anos depois, quando estourou a Revolução Constitucionalista de 1932 (que tentou derrubar Getúlio Vargas do poder), ele serviu como médico no interior de Minas, onde conheceu o futuro presidente e amigo, Juscelino Kubitschek, que era médico-chefe do Hospital de Sangue. Foi nesta época que Rosa teve mais contato com o sertão e com o cotidiano das pessoas de zona rural, marcas principais de sua obra. Não resistindo à literatura, abandonou a medicina.

O mesmo não se pode dizer do poeta Jorge de Lima (1893-1953). Nascido em Alagoas, o autor de “Invenção de Orfeu” nunca abriu mão de seu famoso consultório, que era ponto de encontro de toda a intelectualidade brasileira daquele tempo. Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Vinicius de Moraes e, depois, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Otto Lara Resende sempre iam, quase que diariamente, ao consultório do Dr. Jorge de Lima para falarem de literatura.

Em Campos, a história não é diferente, já que a cidade possui médicos que marcaram seu meio intelectual. Basta lembrar, por exemplo, o caso do Dr. Plínio Bacelar (1907-1989), um dos profissionais mais marcantes na medicina regional, cuja atividade literária culminou no livro “Obras quase completas”, editado em 2007, pela Academia Campista de Letras. Nele, é possível encontrar diversas poesias e crônicas do médico campista, que, além de enriquecerem a literatura de Campos, comemoraram o centenário de seu nascimento, em março de 2007.

Nascido a 22 de março de 1907, o Dr. Plínio Bacelar fez seus estudos básicos no Liceu de Humanidades de Campos, onde saiu, em 1930, para prestar exames e ingressar na Faculdade Nacional de Medicina, formando-se em 1935. De volta à terra natal, dedicou-se à clínica geral e à cirurgia, tendo ocupado várias vezes os cargos de diretoria e presidência da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia. Na década de 1940, passou a realizar pesquisas de gastroenterologia, visando melhorar a saúde da população, que resultaram na criação de um pequeno laboratório. Hoje, ele é nada menos que o Laboratório Plínio Bacelar, um dos mais conceituados do estado do Rio. Dr. Plínio faleceu em 1989.

Outro exemplo de médico que marcou a cultura literária de Campos é o do Dr. Walter Siqueira. Além de ser conhecido pela obra “O poder do verbo”, que reúne memórias pessoais e opiniões de fatos cotidianos, o autor quissamaense radicado em Campos é também famoso pelo traço humorístico, refletidos no livro “Médicos pacientes e pacientes impacientes”, escrito em parceria com o também médico, Dr. Sebastião Siqueira.

Estes são alguns exemplos de profissionais que marcaram a medicina e a vida intelectual de Campos, tanto pelo convívio com escritores e poetas da terra quanto pela variada produção literária. Uma prova inegável de que literatura e medicina sempre andam juntas, já que ambas visam o amor ao próximo, tão celebrado neste Dia do Médico.

Redação
maniadesaude@jornalmaniadesaude.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário