quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Ind/Gesta



ê fome negra incessante
febre voraz gigante
ê terra de tanta cruz

onde se deu primeira missa
índio rima com carniça
no pasto pros urubus

ponho meus dedos cínicos no teu corpo em fossa
proclamando o que ainda possa vir a ser surpresa
porque amor não te essa de cumer na mesa
é caçador e caça mastigando na floresta
toda tesão que resta desta pátria indefesa

meto meus dedos cínicos sobre tuas costas
vou lambendo bostas destas botas neo-burguesas
porque meu amor não tem essa de vir a ser surpresa
é língua suja e grossa visceral ilesa
pra lamber tudo que possa vomitar na mesa
e me livrar da míngua desta língua portuguesa

neste país de foto & palha
se falta lenha na fornalha
uma mordaz língua não falha
cospe grosso na panela
da imperial tropicanalha

não me metam nestes planos
verdes/amarelos
meus dentes vãos/armados
nem foices nem martelos
meus dentes encarnados
alvos brancos belos
já estão desenganados
desta sopa de farelos

arturgomes

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