segunda-feira, 29 de agosto de 2011

ARTE: CONFLITOS DO OLHAR


Ao começar esse artigo sobre Antonio Luis Moraes Andrade (Almandrade), um dos grandes artistas contemporâneos da Bahia desse fim/início de século(s), tenho por força que falar do sonho, sem que esse sonho seja uma negação da realidade e sim uma extensão da vida, transformando a utopia do cotidiano na real necessidade da existência. O sonho, não como mais uma das dimensões do humano, mas como o único caminho de possibilidades múltiplas para as suas realizações. Almandrade surge nos anos 70: em 72 ganha menção honrosa em salão universitário. Durante a década de 80, participa de três bienais em São Paulo (XII, XIII, XVI) e vai firmando-se como poeta, artista plástico, arquiteto e, principalmente, um pensador. Sua arte desenvolve-se a partir da idéia do conflito entre o discurso e o objeto artístico. Insere-se numa geração que vivencia uma época em que o pensamento e as manifestações lúdicas primavam pelo experimentalismo, na busca de novas formas de expressão e do dizer, em meio a conflitos sociais que, com o advento do AI-5 em 1968, ocasionam o fechamento da Bienal de Artes Plásticas da Bahia, encerrando o sonho de Salvador ser a capital nacional das Artes Visuais, deixando o Museu de Arte Moderna da Bahia, criado por Lina Bo Bardi, estagnado por quase uma década. Almandrade vem conquistando o seu merecido espaço, construindo uma linguagem de silêncio, pesquisa e rigor na releitura do signo, que em 1980 explode em maturidade, quando o Museu de Arte Moderna da Bahia começa, realmente, a funcionar, sob a administração de Chico Liberato, como um museu vivo e atuante, e apresenta a primeira exposição de arte contemporânea da Bahia: O Sacrifício do Sentido, onde através de desenhos, objetos escultóricos e textos, nos mostra uma proposta que tenta abolir o discurso do fazer artístico possibilitando que o objeto, sua imagem e o óbvio conflito, que vem de sua observação/elucidação, tornem-se o próprio discurso. Não vejo como fixas as formas expostas pelo artista, apesar de sua pesquisa e do modo como utiliza o seu arsenal técnico, nos iludirem com a fácil observação das formas exatas e estáticas, pois é dessa aparência que se inicia a desconstrução do significante, tornando-o mutante e criando um signo que reflete a curiosidade acerca das expressões do sonho, que sem depender apenas do humano recria-se na utilização de outros materiais. A obra de Almandrade reflete sua atitude de artista consciente e sincero, compromissado com o futuro. Zeca Magalhães ------------------------------------------------ Almandrade (Antônio Luiz M. Andrade) Artista plástico, arquiteto, mestre em desenho urbano e poeta. Participou de várias mostras coletivas, entre elas: XII, XIII e XVI Bienal de São Paulo; "Em Busca da Essência" - mostra especial da XIX Bienal de São Paulo; IV Salão Nacional; Universo do Futebol (MAM/Rio); Feira Nacional (S.Paulo); II Salão Paulista, I Exposição Internacional de Escultura Efêmeras (Fortaleza); I Salão Baiano; II Salão Nacional; Menção honrosa no I Salão Estudantil em 1972. Integrou coletivas de poemas visuais, multimeios e projetos de instalações no Brasil e exterior. Um dos criadores do Grupo de Estudos de Linguagem da Bahia que editou a revista "Semiótica" em 1974. Realizou cerca de treinta exposições individuais em Salvador, Recife, Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo entre 1975 e 2011. É um dos principais nomes da poesia visual no Brasil.

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