Com um texto que poderia ser publicado hoje e, mesmo
assim, estaria atualíssimo, a capa do Jornal Mania de Saúde, Edição de Outubro de 1991, trouxe em manchete a matéria principal daquele mês, com o título: A coisa está preta em Campos.
assim, estaria atualíssimo, a capa do Jornal Mania de Saúde, Edição de Outubro de 1991, trouxe em manchete a matéria principal daquele mês, com o título: A coisa está preta em Campos.
Para recordar a importância daquela matéria, que fincava a bandeira do jornal na defesa do meio ambiente, num momento em que falar de consciência ecológica, em nossa região, era sinônimo de aparthaid social e financeiro dos grupos dominantes da economia local e proibido, inclusive, na maioria das redações, o nosso jornal ouviu o professor Aristides Arthur Sofiatti Netto, além do médico oftalmologista Dr. Oswaldo Cardoso de Mello Filho; do médico perito do INSS, Dr.Joguimar Moreira dos Santos e do pediatra e médico do trabalho, Dr. Carlos Henrique de Oliveira Figueiredo, que falaram das sequelas provenientes da fuligem, na saúde da população.
Verifiquem, meus queridos leitores, como o texto de chamada de capa, em 1991, corresponde ao desejo de mudanças e aos anseios atuais de nossa sociedade: "Sujeira, degradação ambiental e prejuízo à saúde. Eis o retrato de nossa cidade, que constitui, hoje, cenário de um espetáculo interminável onde atua a personagem principal, a fuligem, que paira sombria e levemente sobre nossas cabeças, causando mal-estar a toda comunidade; resultado da queima de canaviais e da liberação de fumaça pelas chaminés das usinas. Até quando Campos será espectador desse teatro, e o que pensam as pessoas ligadas às áreas de saúde e do meio ambiente? (Págs. 6 e 7)"
Isto, repito, foi impresso na capa do Mania de Saúde, edição de Outubro de 1991. Coincidência ou não, em 1992, foi promulgada lei proibindo queimadas.
Na matéria, de duas páginas, o Prof. Aristides Soffiati afirma que "de acordo com dados obtidos nos Estados Unidos (no Brasil, não temos pesquisas precisas a esse respeito), cada tonelada de cana queimada a céu aberto gera 4.17 kg de partículas que seriam fuligem, 28 kg de monóxido de carbono, que é um gás extremamente venenoso, 5.83 kg de hidrocarboneto e 0,56 kg de combinação de oxigênio e nitrogênio." Logo a seguir, o Professor aborda a sua preocupação com o Efeito Estufa e sugere: "A nossa proposta é que, dentro de seis anos, essa prática (queimada), seja suprimida progressivamente, a partir do ano que vem (1992), queimando 80% e cortando 20%, aumentando a cada ano e permitindo que, ao final de seis anos, não haja mais queimadas."
O oftalmologista Dr. Oswaldo Cardoso de Mello Filho, esclareceu, naquela oportunidade, entre outros detalhes, "que a fuligem é uma cinza seca e, quando encosta em algum ponto do olho que está úmido pela lágrima, ela se acomoda e adere àquele órgão. Às vezes, na córnea, às vezes, na conjuntiva e, às vezes, na conjuntiva palpebral superior." Dando sinais de sua preocupação com o meio ambiente, Dr. Oswaldo lembrou que "realmente não se pensa no solo que está sendo consumido pela queimada e na microfauna que está sendo destruída na área."
Embora pediatra, o Dr. Carlos Henrique de Oliveira Figueiredo citou um fato importante relacionado à Medicina Ocupacional, sua outra especialidade: "A fuligem pode causar manifestações respiratórias importantes e até mesmo limitação da capacidade funcional do indivíduo."
É importante ressaltar que não estou usando este espaço, em hipótese alguma, para estimular um clima de revolta ou tentar criar uma aura de descontentamento, como desejam os arautos do caos, com a decisão do Exmº. Dr. José Antônio Lisboa Neiva, Desembargador do Tribunal Regional Federal (TRF), da 2ª Região, que atendeu ao Agravo de Instrumento, impetrado pelo Presidente da Coagro, Sr. Frederico Paes, no dia 26 de Junho de 2011, permitindo a volta do recebimento de cana queimada, pelas usinas. Todos nós temos a obrigação de saber que Ordem Judicial não se discute. Acata-se e cumpre-se.
Porém creio que nesta disputa não haja vencedores. Todos são vítimas deste processo. No rol dos prejudicados, todos trabalhadores, homens de bem e bem intencionados com a preservação do meio ambiente, imagino, sofrem as famílias e, por extensão, toda a comunidade.
Neste texto, tenho a pretensão de lembrar que se passaram 20 anos, e muito pouco se fez para pôr fim ao maior tormento ambiental no município de Campos dos Goytacazes, além de manifestar a minha preocupação com o nível de convivência do futuro promissor estruturado tecnologicamente nos maiores avanços científicos do mundo, que está aportando em Campos, em contraste com as práticas medievais mais obsoletas realizadas através de ações como as queimadas.
O pool de empresas que se instalará em nossa região, com ênfase para as multinacionais, certamente sabe o valor e a importância do Selo Verde, um diferencial positivo na balança comercial nos principais países do mundo.
Estas empresas são conscientes da preservação ambiental, estão inscritas ou já receberam a chancela de programas reconhecidos internacionalmente, como o ISO, são auditadas e acompanhadas por especialistas que mudam a filosofia empresarial, implantando sistemas ecologicamente corretos e tornando autossustentável toda a cadeia operacional e produtiva, mesmo diante do processo de robotização e outras tecnologias de última geração na produção de suas riquezas.
A carruagem está passando. Deixemos de lado os interesses individualistas e a tergiversação que aduba as relações bajuladoras com o poder político, para pensar na convivência coletiva e saber que o luxo e o lixo só se harmonizam em enredo de escola de samba, em que a denúncia criativa do artista carnavalesco transforma a doença em felicidade e a pobreza em alegria.
Sylvio Muniz Sylvio Muniz é publicitário (05855-SP-1975), fundador, editor e proprietário do Jornal Mania de Saúde e Conselheiro da Ordem dos Jornalistas do Brasil. |
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